TURISTA E PEREGRINOS
De La Taille usa essa metáfora que nos convida a refletir sobre como estamos estruturando nossa vida: estamos colecionando experiências sem sentido maior (turista) da própria existência, ou estamos trilhando um caminho significativo (peregrino)?
Psicólogo, escritor, educador e pesquisador brasileiro de origem francesa, hoje aposentado como professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), De La Taille teve seu trabalho reconhecido nos campos da psicologia moral, ética e educação, com foco em temas como formação de valores, moralidade e desenvolvimento humano.
“Que cidadãos estamos reproduzindo na escola, turistas ou peregrinos?”, acrescenta a pergunta De La Taille, acreditando ser a opção turista a que se encaixa mais, pois no seu ponto de vista, o turista viaja por recreação, busca apenas o prazer, geralmente não dá atenção à situação social do local que visita e muito menos às pessoas que lá estão apenas para servi-lo. Raramente traz de volta uma experiência de vida. Contrário do peregrino que, salienta, viaja porque tem um querer, busca alguma coisa, uma identidade, às vezes escreve um diário e traz da sua viagem uma experiência. Para ele, a ida e a volta são lentas e importantes, o caminhar tem seu valor. O peregrino não busca o prazer, mas a alegria!
Algumas frases do psicólogo De La Taille:
– “Nosso tempo é uma sequência de pequenas urgências”;
– “Vivemos a ditadura do prazer numa época em que a ordem é comunicar-se, o que é muito diferente de estar com o outro”;
– “Hoje, a vida é muito mais afeita à lógica funcional do Turista, ou seja, ela é uma simples sequência de eventos sem encadeamento”.
Dicas de livros do escritor De La Taille:
– “Limites: três dimensões educacionais” – Um livro que discute os limites no contexto educacional, relacionando-os à formação de valores éticos e ao desenvolvimento moral.
– “Moral e Ética: dimensões intelectuais e afetivas” – Obra essencial para quem deseja compreender a relação entre pensamento ético e emoção na formação do indivíduo.
PEREGRINOS EM BUSCA DE EXPERIÊNCIAS
Existem rotas turísticas que proporcionam aos turistas, neste caso peregrinos, uma combinação de espiritualidade, história e contato com a natureza, enriquecendo a experiência de fé e autoconhecimento.
O glossário do Ministério do Turismo (MTur) não forneça uma definição específica para “turismo de caminhada religiosa”. Essa modalidade pode ser entendida como uma forma de turismo religioso que envolve deslocamentos a pé, geralmente em rotas de peregrinação, com o objetivo de vivenciar experiências espirituais e de fé.
Entre as grandes caminhadas religiosas no Brasil encontramos uma localizada no Espirito Santo, chamada PASSOS DE ANCHIETA. A caminhada refaz o percurso histórico de aproximadamente 100 km realizado pelo Padre José de Anchieta no século XVI, ligando as cidades de Vitória a Anchieta. O evento ocorre anualmente em junho e dura quatro dias, com caminhadas diárias de 4 a 7 horas de duração. Em 2023, cerca de 3.000 pessoas participaram da caminhada.
Também encontramos mais uma caminhada com referência em peregrinação: o CAMINHO DO SOL (São Paulo/Brasil). Ela nasceu com o objetivo de oferecer aos amantes de caminhadas um ambiente agradável e com o seu percurso por áreas rurais, buscando a introspecção e o despojamento matéria, de aproximadamente 240 km. É uma preparação para aqueles que desejam realizar o Caminho de Santiago de Compostela.
Destacam-se também:
– O Caminho da Fé (SP/MG – Brasil), que proporciona momentos de reflexão e fé, saúde física e psicológica e interação do homem com a natureza. É composto por mais de 2000 km , dos quais aproximadamente 400 km atravessam montanhas da Mantiqueira.
– O Caminho das Missões (RS), roteiro místico-cultural-histórico de caminhadas através dos Sete Povos das Missões. Opção para um encontro consigo mesmo e também com a rica história do povo gaúcho. Seu percurso supera os 750 km em 30 dias.
Informações: https://www.rotamissoes.com.br
Os exemplos de rotas acima citadas deixam perceber como as rotas ligam os sentidos religiosos e seculares na constituição dos caminhos. Uma reflexão mais detalhada da semântica dos termos peregrinação e romaria pode ser encontrada no artigo “Peregrinação, romaria e turismo religioso: raízes etimológicas e interpretações antropológicas” (Steil, 2003).
CAMINHO DA GRATIDÃO
Surgiu das experiências vividas pelos Peregrinos do Rio Grande do Sul da Cidade de Torres e do Extremo Sul Catarinense, das cidades de Sombrio e Balneário Gaivota.
A constituição sólida desta rota de peregrinação no litoral sul do Brasil, entre os municípios de Torres (RS) e Nova Trento (SC) resultou na criação da Associação dos Amigos do Caminho da Gratidão e a realização da primeira peregrinação em 2022 para conhecer in loco os desafios.
Detalhes, seus caminhos, descritivos e relatos serão apresentados durante as próximas colunas.
Até a próxima… Desejo de bons caminhos e ótimas trilhas para todos nós.
Luiz Fernando Soares
Técnico e Gestor de Turismo – Cadastur 24.016176.96-2
https://www.instagram.com/fernando.tectur
www.tec.tur.br
Coluna Caminhos do Mar e das Alturas
O nome desta coluna evoca a conexão do homem com as atividades entre a grandiosidade dos cânions regionais e a serenidade das praias, criando uma identidade única para a coluna. Reforça o simbolismo da jornada e da conexão entre os elementos da região, com conteúdo envolvendo os segmentos que atendem e direcionam o turismo regional.
Como diretor da TecTur Turismo, sou guia de turismo credenciado nos Parques Nacional de Aparados da Serra e Serra Geral, especificamente na 9ª Região Turística Caminho dos Canyons do Sul – Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sou apaixonado pela fotografia de natureza e das aventuras em que participo, além da consultor e orientador no segmento do turismo rural. Também realizo trabalhos como coordenador e difusor de estratégias e análises no segmento de pesquisa político/administrativo. Gaúcho de Porto Alegre, há mais de 20 anos resido com minha família em Santa Catarina, atualmente no centro de uma região com turismo 12 meses por ano: Sombrio.
