BR 285 – DO BRASIL AO CHILE
Com sua importância para o desenvolvimento de economias locais em cidades médias e pequenas tanto no Rio Grande do Sul como em Santa Catarina (Vacaria, Lagoa Vermelha e São José dos Ausentes, Timbé do Sul, Turvo, entre tantas), a BR-285 apresenta oportunidades e estimula o turismo rural, a gastronomia típica gaúcha e catarinense e também eventos culturais. Apesar de avanços recentes, como a pavimentação da Serra da Rocinha, muitos trechos ainda sofrem com problemas de manutenção, sinalização insuficiente e infraestrutura inadequada para o turismo, como pontos de apoio, mirantes e áreas de descanso.
A BR 285 traz como ponto positivo a incentiva à descentralização do turismo no Brasil, reduzindo a dependência de destinos consagrados e promovendo desenvolvimento regional. Seu lado negativo é que as condições atuais da rodovia, conforme dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), tornam o percurso arriscado e desconfortável, afastando turistas menos experientes e prejudicando a experiência turística na região do Caminho dos Canyons.
BR-285 é chamada de Transoceânica?
Sim, esta rodovia conecta, de forma prática, o Atlântico ao Pacífico, integrando o interior do Brasil com o Oceano Atlântico e facilitando o acesso rodoviário até o Oceano Pacífico via Argentina e Chile.
A BR-285 começa próxima ao litoral sul do Brasil, em Araranguá (SC), a poucos quilômetros do Oceano Atlântico, seguindo para o Rio Grande do Sul através da cidade de Timbé do Sul/SC, chegando à fronteira com a Argentina, em São Borja/RS. A partir dali, conecta-se à Ruta Nacional 14 e outras rodovias argentinas que seguem rumo ao Chile, alcançando o Oceano Pacífico, especialmente através do Passo de Jama ou do Passo Cristo Redentor, nos Andes.
Integração Multinacional
A BR-285 faz parte de um corredor logístico internacional, integrando o Brasil, a Argentina e o Chile. É uma rota estratégica para o Mercosul, especialmente para o transporte de cargas entre os países e os dois oceanos sendo, muitas vezes, associado à chamada “rota bioceânica”.
Com sua importância econômica, ela reduz custos e distâncias logísticas, principalmente para produtores brasileiros do Sul e do Centro-Oeste que querem exportar para a Ásia via portos chilenos.
Para o setor turístico, favorece o turismo rodoviário internacional entre brasileiros, argentinos, uruguaios e chilenos, facilitando a rota para viagens de lazer, especialmente na alta temporada.
Embora a BR-285 seja parte da rota transoceânica, ela não é a única rodovia que realiza essa integração. Ela se conecta com outras vias, especialmente na Argentina e no Chile. Ou seja, ela é um elo fundamental, mas a travessia completa depende de várias rodovias internacionais.
Características gerais do tráfego (DNIT e ANTT) 2024 e 2023
– Predomínio de transporte rodoviário de cargas agrícolas e pecuárias;
– Crescente fluxo de veículos de turismo e motociclistas, principalmente em trechos da Serra da Rocinha e Campos de Cima da Serra;
– Forte presença de caminhões realizando transporte internacional até a Argentina e ao Chile.
Volume diário médio (CNT e DNIT) 2024 e 2023
– Trecho Oeste (São Borja a Ijuí – RS): 3.500 veículos/dia — 55% caminhões;
– Trecho Central (Passo Fundo a Vacaria – RS): 5.000 veículos/dia — tráfego misto.
– Trecho Leste (Vacaria – RS a Araranguá – SC): 2.500 veículos/dia — foco no turismo e lazer.
Picos sazonais (MTur e FARSUL) 2024
– Alta temporada: dezembro a março (turismo);
– Intensificação agrícola: fevereiro a maio (escoamento de grãos);
– Inverno: junho a agosto (turismo de inverno nos Aparados da Serra).
Setores mais beneficiados (IBGE e SEBRAE-RS) 2024
– Agropecuária: escoamento de soja, milho, trigo e carne bovina;
– Comércio e serviços: postos, restaurantes, hospedagens, oficinas;
– Turismo: receptivos turísticos, guias, hospedagem e alimentação.
Principais atrações turísticas (ICMBio e MTur) 2024
– Cânions e Parques Naturais: Aparados da Serra, Serra Geral;
– Serra da Rocinha: roteiro de mototurismo e aventura;
– Patrimônio cultural: festas tradicionais, gastronomia típica gaúcha;
– Rota Transoceânica: experiência única de cruzar do Atlântico ao Pacífico.
Perfil do turista (Embratur e SEBRAE) 2023 e 2024
– Doméstico: gaúchos, catarinenses, paulistas;
– Internacional: argentinos, uruguaios, chilenos;
– Modal predominante: automóveis, motorhomes, motocicletas.
Modalidades de turismo (Observatório do Turismo RS) 2025
– Ecoturismo: trilhas, observação de fauna e flora;
– Aventura: motociclismo, rapel, trekking;
– Cultural: festas regionais, gastronomia.
Perspectivas Futuras (M da Infraestrutura e Fórum de Desen Turístico RS) PNL 2035 e 2025
– Projeção de crescimento do fluxo turístico em até 40% até 2030;
– Aumento da competitividade logística com redução de custos para exportadores do agronegócio brasileiro via portos do Chile;
– Iniciativas públicas para transformar a BR-285 em Rota Bioceânica certificada.
É nítido que existe um potencial latente, mas ainda mal explorado. A BR-285 precisa de uma governança interinstitucional que articule políticas públicas de infraestrutura, turismo e meio ambiente para se consolidar como um exemplo de turismo rodoviário sustentável e integrador no Brasil e no Mercosul.
Até o término desta coluna, não foi encontrado dados estatísticos específicos sobre o volume médio de tráfego na BR-285, principalmente na divisa entre RS e SC – no município de Timbé do Sul; o número de turistas que utilizam a rota anualmente; e indicadores econômicos da movimentação turística.
Sem dados numéricos, o que foi apresentado acima fica mais qualitativa do que empiricamente comprovada, o que enfraquece a argumentação de um plano de desenvolvimento mais sustentável e duradouro.
Ainda sobre a evolução do turismo, deveria ser mais explorado o patrimônio cultural ao longo da rodovia, como festas tradicionais; gastronomia típica; manifestações culturais também das cidades às margens da rodovia. O turismo cultural é uma das vertentes mais importantes do turismo brasileiro e poderia ser um diferencial estratégico para a valorização e promoção da BR-285.
É uma promessa latente — e, sobretudo, viável.
Até a próxima matéria!!
Luiz Fernando Soares
Técnico e Gestor de Turismo – Cadastur 24.016176.96-2
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fernando.tectur@gmail.com
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Coluna Caminhos do Mar e das Alturas
O nome desta coluna evoca a conexão do homem com as atividades entre a grandiosidade dos cânions regionais e a serenidade das praias, criando uma identidade única para a coluna. Reforça o simbolismo da jornada e da conexão entre os elementos da região, com conteúdo envolvendo os segmentos que atendem e direcionam o turismo regional.
Como diretor da TecTur Turismo, sou guia de turismo credenciado nos Parques Nacional de Aparados da Serra e Serra Geral, especificamente na 9ª Região Turística Caminho dos Canyons do Sul – Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sou apaixonado pela fotografia de natureza e das aventuras em que participo, além da consultor e orientador no segmento do turismo rural. Também realizo trabalhos como coordenador e difusor de estratégias e análises no segmento de pesquisa político/administrativo. Gaúcho de Porto Alegre, há mais de 20 anos resido com minha família em Santa Catarina, atualmente no centro de uma região com turismo 12 meses por ano: Sombrio.