Mãe e filhos, de 19 e 22 anos, não viam a luz do sol há quase duas décadas; acusado foi preso no local
A denúncia de que um homem manteve a mulher e os dois filhos, de 19 e 22 anos, em cárcere privado por 17 anos, no Rio de Janeiro, chocou o país nesta quinta-feira (28). Amarrados e torturados, a mãe contou que eles chegavam a passar três dias sem comer.
Por conta da desnutrição, os jovens parecem ser crianças de 10 anos. A mulher relatou que não via a luz do sol há quase duas décadas. O homem, que também é pai dos jovens, foi preso no local. Conforme a Polícia Militar, o imóvel não tinha condições dignas de habitação.
As fotos divulgadas pela PM mostram que o chão era de cimento, não havia água encanada e os colchões eram extremamente sujos e sem lençol. Os filhos foram encontrados amarrados.
Em entrevista ao UOL, o capitão da PM William informou que os policiais foram acionados após uma denúncia anônima. “Nos deparamos com as crianças amarradas. A nossa compreensão na hora era de que se tratava de crianças. O rapaz estava no colo da mulher. Só tivemos ciência da idade quando a gente viu os registros deles”, ressaltou.
O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado para socorrer as vítimas, que foram encaminhadas ao Hospital Municipal Rocha Faria. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, os três estavam em um estado grave de desnutrição e desidratação. “As crianças não falavam. Não sei se por conta da situação que foram submetidas, se não se desenvolveram, ou se nasceram com alguma deficiência. A mulher foi quem nos disse que estava naquela situação há 17 anos e os vizinhos confirmaram que ela nunca era vista na rua”, disse o militar.
Quem é o acusado
O homem foi identificado como Luiz Antônio Santos Silva, apelidado como DJ por usar música alta para abafar os gritos de socorro das vítimas. De acordo com a PM, ele disse que era trabalhador e que os filhos tinham problemas psicológicos, por isso “precisavam” ficar amarrados. “Ele não demonstrou remorso nem arrependimento em momento algum”, afirmou William.
O homem foi autuado em flagrante pelos crimes de tortura, cárcere privado e maus-tratos. A Polícia Civil informou ao UOL que a investigação segue em andamento. Há 15 anos na Polícia Militar, o capitão afirmou que nunca viu situação igual.
Os vizinhos relataram que passavam comida por brechas do portão à mulher, mas que a vítima tinha muito medo de que o marido descobrisse. A direção da Clínica da família Alkindar Soares Pereira Filho informou que notificou a suspeita de maus-tratos em 2020 ao Conselho Tutelar da região. O órgão disse que acompanha o caso há dois anos, além de ter acionado o Ministério Público e a polícia, mas que nada foi feito. O MP ainda não se posicionou sobre o caso.
ndmais.com.br