TURISMO OU IMPRUDÊNCIA? A ESCOLHA É SUA
A falta que a informação faz nos traz uma reflexão: quando uma frente fria chega sem aviso, ou quando um ciclone extratropical atinge a região dos cânions de SC/RS com força, a primeira reação de muitos turistas é o medo — e é aí que o medo nasce, quase sempre, por falta dela.

Mirantes com raras ou ainda sem placas atualizadas, trilhas muitas vezes sem o controle de acesso e turistas mal instruídos e desavisados em áreas de risco são um retrato do que ainda falta algumas políticas de prevenção. Não se trata apenas de infraestrutura física, mas de sistemas de comunicação eficientes que orientem em tempo real e evitem tragédias.
Outros destinos no mundo já provaram que isso é possível e eficaz, mas no Brasil falta adotar critérios com seriedade e responsabilidade, modelos que funcionam e que colocam a segurança na prioridade da experiência turística.

Nos cânions do Sul do Brasil, a natureza é majestosa, mas também imprevisível. Em agosto de 2025, ventos de mais de 95 km/h em Cambará do Sul e 105 km/h em Urupema colocaram à prova a segurança de turistas e a capacidade de resposta dos gestores. A pergunta que ecoa é simples, mas inquietante: estamos preparados para garantir que a contemplação não vire tragédia?

A força da natureza e a fragilidade da gestão
A região dos cânions de Aparados da Serra e da Serra Geral (RS/SC) e todo o seu contexto e entorno, são cartões-postais reconhecidos mundialmente, mas ainda sofrem com uma fragilidade estrutural e muitas vezes evidente: a ausência de protocolos claros de informação ao visitante. Ciclones extratropicais, tempestades repentinas e rajadas violentas de vento são fenômenos cada vez mais frequentes, resultado direto das mudanças climáticas. E, no entanto, turistas continuam sendo surpreendidos em atividades na natureza, trilhas e mirantes sem qualquer aviso prévio. A vulnerabilidade não está apenas na natureza, mas na não contratação de um guia experiente e na gestão do turismo regional que ainda não incorporou plenamente o conceito de segurança preventiva.

Informação salva vidas de todos
Em destinos naturais pelo mundo, já se comprovou que a informação em tempo real é o recurso mais barato e eficaz para evitar acidentes. Em Yosemite (EUA), um aplicativo oficial envia alertas automáticos aos visitantes sobre trilhas fechadas ou riscos de queda de árvores. No Parque Nacional Torres del Paine (Chile), nenhum visitante inicia uma caminhada sem receber instruções detalhadas e consultar previsões meteorológicas obrigatórias.

Esses modelos mostram que investir em tecnologia e comunicação reduz riscos e aumenta a confiança dos visitantes. O contraste com os cânions brasileiros é evidente: aqui, ainda prevalece precariedade e a improvisação.

O papel do guia credenciado
Diante da falta de sistemas de informação, o guia credenciado assume o papel de guardião da segurança. Ele conhece os sinais que antecedem uma mudança brusca de clima, domina rotas alternativas em caso de perigo e está preparado para oferecer primeiros socorros em situações de emergência. Mais do que um acompanhante, o guia é a ponte entre a grandiosidade da natureza e a proteção da vida.

Ignorar a figura de um guia credenciado e/ou altamente experiente é um erro que custa caro: turistas que caminham sozinhos não apenas arriscam a própria vida, como também sobrecarregam equipes de resgate e comprometem a imagem do destino.

Segurança é sustentabilidade
Falar em turismo sustentável não é apenas falar em preservar o meio ambiente. É também garantir que cada visitante tenha condições de vivenciar a natureza sem riscos desnecessários.

Um destino turístico só se fortalece quando transmite confiança, e essa confiança nasce da soma entre gestão eficiente, informação clara e guias valorizados. Investir em painéis informativos, sistemas de alerta e integração com meteorologia não é luxo: é o básico para que a experiência turística seja lembrada pela beleza, e não pelo medo.

Turismo e/ou imprudência?
Os cânions continuarão sendo majestosos, mas a questão permanece: vamos esperar o próximo acidente para agir? É inaceitável que um destino reconhecido internacionalmente e que faz parte de um Geoparque Mundial da UNESCO, ainda dependa da sorte para garantir a segurança de seus visitantes.

A escolha entre turismo e imprudência não deve estar apenas nas mãos do viajante. Ela precisa ser feita, urgentemente, pelos gestores públicos e privados que administram esse patrimônio natural. Caso contrário, o que hoje é sinônimo de encanto pode se transformar novamente em manchete de tragédia.

A pergunta que não quer calar:
– Esperar o próximo acidente para investir em segurança e informação?
– Vamos assumir que o turismo sustentável começa pela vida do visitante?

Até a próxima matéria !!

Luiz Fernando Soares
Técnico e Gestor de Turismo – Cadastur 24.016176.96-2

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Coluna Caminhos do Mar e das Alturas
O nome desta coluna evoca a conexão do homem com as atividades entre a grandiosidade dos cânions regionais e a serenidade das praias, criando uma identidade única para a coluna. Reforça o simbolismo da jornada e da conexão entre os elementos da região, com conteúdo envolvendo os segmentos que atendem e direcionam o turismo regional.

Como diretor da TecTur Turismo, sou guia de turismo credenciado nos Parques Nacional de Aparados da Serra e Serra Geral, especificamente na 9ª Região Turística Caminho dos Canyons do Sul – Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sou apaixonado pela fotografia de natureza e das aventuras em que participo, além da consultor e orientador no segmento do turismo rural. Também realizo trabalhos como coordenador e difusor de estratégias e análises no segmento de pesquisa político/administrativo. Gaúcho de Porto Alegre, há mais de 20 anos resido com minha família em Santa Catarina, atualmente no centro de uma região com turismo 12 meses por ano: Sombrio.