ACIDENTES COM SERPENTES EM SC E RS: UMA TENDÊNCIA DE CRESCIMENTO

Soros que tratam acidentes com picadas de cobra, escorpião, aranha e lagartas podem ser encontrados em unidades de referência em todo o Brasil, conforme o Instituto Butantan.

O Instituto Butantan é o maior produtor de soros antiveneno do país, mas não fornece soros diretamente para a população. Os soros produzidos no Brasil são distribuídos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Podem estar disponíveis em hospitais públicos, filantrópicos ou privados, desde que seja garantido o tratamento sem custo ao paciente. O Butantan é sede de um deles, o Hospital Vital Brazil (HVB), referência em atendimento de picadas com animais peçonhentos.

Conforme site do Instituto, são produzidos 8 tipos de soros contra picadas de cobras, escorpiões e lagartas (lonomias), além de soros para tratamento do botulismo, raiva, tétano e difteria, totalizando 12 tipos diferentes de soros. A linha de produção dos soros antiveneno do Instituto é certificada em Boas Práticas de Fabricação (BPF) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Butantan é o único produtor brasileiro que possui essa certificação e, por isso, também o único qualificado, no momento, para fornecer soros antiveneno ao SUS. A cada ano, são encaminhados cerca de 600 mil frascos ao Ministério da Saúde, que repassa aos estados, que transferem aos municípios.

Segundo o Informe de Distribuição de Imunobiológico aos Estados, divulgado pelo Departamento de Imunização e Doenças Imunopreveníveis do Ministério da Saúde em julho de 2023, é importante que os estados e municípios aloquem os soros de forma estratégica, principalmente nas áreas onde há maior risco de acidentes.

Os soros têm validade de 36 meses a partir da data de fabricação, exceto o soro antibotulínico AB que tem validade de 24 meses.

Unidades de Saúde com soro antiofídico
No Brasil, o soro antiofídico é distribuído em cerca de 2.172 polos pelo país, incluindo regiões do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O atendimento deve ser feito imediatamente em uma unidade de saúde de referência para acidentes ofídicos, visto que qualquer hospital comum pode não ter o soro, e o tempo até o atendimento é essencial e vital.

Onde buscar socorro na região sul de SC e RS
As opções de atendimento na região e cidades mais próximas dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral são Cambará do Sul/RS e Praia Grande/SC. Outras localidades também podem ser acessadas como no Hospital Geral de Caxias do Sul/RS, Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre/RS, Santa Casa de Rio Grande/RS, Hospital São José em Criciúma/SC, Hospital Regional Deputado Affonso Ghizzo em Araranguá/SC, entre outros.

O Rio Grande do Sul conta com 19 polos de soro antiofídico. Santa Catarina são 115 polos distribuídos por diversos municípios e o Paraná tem 215 polos registrados. Estes dados são divulgados no site oficial do Ministério da Saúde e da Fiocruz/Sinitox.

Contatos e plano de atuação
Emergência: ligar imediatamente para o 192 (SAMU) ou 193 (bombeiros);
Informe: picada de cobra em área remota, localização exata, se possível uma foto ou o próprio animal;

  • Enquanto socorro não chega:
    – Imobilize o membro afetado sem interromper circulação;
    – Mantenha a vítima em repouso;
    – Não corte, não aplique torniquete, não use álcool ou remedos caseiros;
  • Ao chegar na UBS/UPA local: O profissional deve confirmar picada ofídica. Se não houver soro, realizar transferência imediata para unidade de referência (hospital com polo de soro);
  • População local e visitantes: Devem identificar previamente os hospitais de referência na região e anotar telefones.

Em todos os casos, pode também ligar para o CIATox/SC (0800 643 5252) em emergências, para orientação imediata e direcionamento do atendimento. Informações através do site https://www.ciatox.sc.gov.br/index.php/servicos/soro-antiveneno-e-antidotos.html?utm_source=chatgpt.com

Tipos de serpentes e soros disponíveis no SUS
Os hospitais São José (Criciúma) e o Regional Deputado Affonso Ghizzo (Araranguá), quando abastecidos com soro antiofídico via SUS, estão capacitados a atender os acidentes causados pelas principais serpentes peçonhentas do Brasil, especialmente as que ocorrem na região Sul.

São elas:
1 -Jararaca (Bothrops spp.)
– É a serpente mais comum nos acidentes na região Sul;
– Soro utilizado: Soro antibotrópico (soro antibothrops);
– Sintomas: dor intensa, sangramentos, inchaço, necrose, queda de pressão;
– Alta incidência em matas, trilhas e lavouras

2 – Cascavel (Crotalus durissus)
– Presente na região sul, embora menos comum nos parques;
– Soro utilizado: Soro anticrotálico;
– Sintomas: visão turva, paralisia, urina escura, mialgia intensa, insuficiência renal;

3 – Surucucu ou Piquiá (Lachesis muta)
– Muito rara no Sul do Brasil, mais presente na Amazônia e Mata Atlântica ao norte;
– Soro utilizado: Soro antilaquético.
* Os hospitais da região sul geralmente não estocam esse soro, devido à baixa ocorrência.

4 – Coral verdadeira (Micrurus spp.)
– Pouco incidente, mas pode ocorrer;
– Soro utilizado: Soro antielapídico;
– Sintomas: paralisia muscular progressiva, dificuldade respiratória.
* Risco alto, exige soro específico raramente disponível em todas as unidades locais.

Estatísticas de atendimentos
Segue um panorama atualizado sobre estatísticas de atendimentos por acidentes com serpentes e outros animais peçonhentos no Sul do Brasil (foco em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná):

Santa Catarina (dados 2024–2025 – (www.dive.sc.gov.br/) – Em 2024, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de SC (CIATox/SC) registrou 6.031 atendimentos relacionados a animais peçonhentos, dos quais 551 (9,1%) foram acidentes com serpentes. Destes, 25 foram graves e resultaram em 5 óbitos.
Houve um aumento de 3,7% nos casos em relação a 2023 (www.estado.sc.gov.br);
No período de janeiro a março de 2025, foram contabilizados 226 acidentes com serpentes, comparado a 207 no mesmo período em 2024 (+9%).

Paraná e Rio Grande do Sul – Estatísticas específicas recentes para serpentes no PR e RS não estão amplamente divulgadas em fontes públicas atualizadas. Consultar boletins oficiais da Secretaria Estadual da Saúde do RS e a CIATox/Paraná (se existir) ou telefones regionais.

Relevância local
O aumento de acidentes no verão e nas estações mais quentes reforça a necessidade de protocolos eficientes de prevenção e resposta nas áreas dos parques e no seu entorno.
Sabendo que cerca de 10% dos casos envolvem serpentes, e desses alguns resultam em gravidade ou morte, os hospitais para atendimento local (Criciúma, Araranguá) e os protocolos são essenciais. Para minimizar resultados negativos.

Evolução dos acidentes
O gráfico abaixo apresenta a evolução dos acidentes com animais peçonhentos e com serpentes em Santa Catarina entre 2023 e o primeiro trimestre de 2025.

Fonte: www.saude.sc.gov.br

Com base nos dados estatísticos e nas evidências apresentadas acima, é possível afirmar que os acidentes com serpentes em Santa Catarina têm apresentado uma tendência de crescimento nos últimos anos. Esse aumento, embora proporcionalmente pequeno em relação ao total de acidentes com animais peçonhentos, reforça a necessidade de maior vigilância e estrutura nas áreas de risco — especialmente nas zonas de trilha e turismo ecológico dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral. Os dados com óbitos confirmados e aumento de registros no primeiro trimestre de 2025, revela um alerta silencioso que precisa ser levado a sério por autoridades, gestores de unidades de conservação e condutores turísticos.

A infraestrutura hospitalar regional, com polos em Criciúma e Araranguá, mostra-se razoavelmente preparada para atender os casos típicos de jararacas e cascavéis, mas a ausência garantida de soro para corais e a dependência de confirmações logísticas evidenciam vulnerabilidades operacionais.

Falta investimento consistente em treinamento de campo, protocolos de emergência amplamente difundidos e campanhas educativas que empoderem visitantes, turistas e os profissionais que atuam nos Parque e na natureza.

É uma questão urgente — e, sobretudo, ficar SEMPRE EM ALERTA.

Até a próxima matéria !!

Luiz Fernando Soares
Técnico e Gestor de Turismo – Cadastur 24.016176.96-2
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Coluna Caminhos do Mar e das Alturas
O nome desta coluna evoca a conexão do homem com as atividades entre a grandiosidade dos cânions regionais e a serenidade das praias, criando uma identidade única para a coluna. Reforça o simbolismo da jornada e da conexão entre os elementos da região, com conteúdo envolvendo os segmentos que atendem e direcionam o turismo regional.

Como diretor da TecTur Turismo, sou guia de turismo credenciado nos Parques Nacional de Aparados da Serra e Serra Geral, especificamente na 9ª Região Turística Caminho dos Canyons do Sul – Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sou apaixonado pela fotografia de natureza e das aventuras em que participo, além da consultor e orientador no segmento do turismo rural. Também realizo trabalhos como coordenador e difusor de estratégias e análises no segmento de pesquisa político/administrativo. Gaúcho de Porto Alegre, há mais de 20 anos resido com minha família em Santa Catarina, atualmente no centro de uma região com turismo 12 meses por ano: Sombrio.